quarta-feira, 29 de dezembro de 2010

A Ética

Já que eu tenho provas de que ele me deu esse poema e o direito de publicar... Ele será publicado =]

A Ética 
Diógenes Abrantes
"- Ética, o que é você?
-Sou uma velha ranzinza que olho algum pode ver!

-Ética por que diz me o que fazer?
- Porque em um mundo de tolos mais um tolo tu deves ser!

-Ética, mas quem assim te fez?
-A sociedade humana necessita de leis! 

-Mas ética, é necessário tanta rigidez?
- Manufaturo o produto de acordo com o freguês!!!

-Ética o que tenta dizer com tamanha estupidez?
-Digo o que devo e o que deves fazer!

-Ética de fato tu não me agrada 
-Pois vá você ler os contos de fadas

-Ética não vês que agora perdes um amigo? 
-Podes não ser meu amigo, mas sofrerá o castigo!!

-Ética não me prenda, tenho sede de vida, vou me libertar! 
-Assim como os outros revolucionários, aos meus pés morrerá!!!!


Ética, uma velha rígida de infeliz, nasceu com a comunidade e eterna será; já eu rebelde de muitas causas, contra a velha me voltei, imortal não sou, mas com minhas proprias regras, feliz e livre morrerei."

sexta-feira, 17 de dezembro de 2010

Chico e eu (parte final)

Não sei se sonhei. Acordei com um susto. Coração quase furava a caixa toráxica. Respiração mal passava pelos pulmões. Motivo? Nenhum. Mais um dia. Acorde e viva, tudo fica bem. Fiquei ouvindo a respiração do Chico. Ele sempre respirara tão alto assim enquanto dormia e eu nunca notara? Que aflição! Observava- o dormir e pensava em todo o tempo em que estivemos juntos, quando o despertador alertou o início de um novo dia. Levantei-me antes que Chico me olhasse. Por algum motivo desconhecido, não queria olhá-lo nos olhos.
No banho, lembrava-me daquele dia há 6 anos e alguns meses: votos de só nos separarmos se a morte interviesse. Não foi mentira. Não se mente quando se acredita no que se diz. Carolina aceita Francisco, para amar-lhe e respeitar-lhe, todos os dias de sua vida? Sim. Aceitei.
Café da manhã silencioso. Silêncio que não incomodava claramente. Silêncio naturalmente calado. Dei-lhe um beijo na testa e saí.
Dia de trabalho cheio de aflição. Um dia que me incomodava, sem que eu soubesse ao certo o que era tão incômodo. Surpreendi-me muitas vezes olhando para o porta-retrato com uma foto minha e do Chico. Ela estava ali há tanto tempo que eu parei de prestar atenção nela. Mas hoje ela teve destaque na minha mesa cheia de documentos e bagunças. Lembrei-me daquele dia. Viagem curta para o interior. Qualquer pessoa que olhasse para a foto sentiria o alto teor de paixão existente nela.
Almoço sem fome. Mesmo restaurante que eu frequentava de segunda a sexta, 11 meses por  ano, há 3 anos. Não lembrei-me disso quando entrei lá. O lugar me incomodou tanto, que quis sair dali. Não o fiz. Entrei e olhei o cardápio - coisa que não fazia há tempos, já que sempre pedia a mesma comida.
"O de sempre, dona Carolina?"
"Não. Hoje eu quero esse aqui. E com queijo extra, ok?" Respondi sem levantar os olhos.
Quando voltava ao escritório, vi uma moeda brilhante no chão. Quem acha um dinheiro, tem sorte o dia inteiro. Caminhei o resto do caminho segurando a moeda com força dentro do casaco. Não sabia bem o que pretendia com aquela atitude, mas agora acho que queria a sorte que o dinheiro achado poderia me trazer. Trabalhei com mais entusiasmo o resto do dia, para que minha mente fosse ocupada demais para pensar em qualquer outra coisa que não fosse de interesse estritamente profissional.
Dentro do carro, no caminho do trabalho até em casa, liguei o rádio com o volume bem alto. Há muito não me divertia tanto cantando junto. Tão simples, mas me trouxe tanta leveza... Toquei a moeda e senti meu rosto sorrir. Entrei em casa e tudo parecia diferente. Tudo bem melhor.
Enquanto preparava o jantar, lágrimas desciam pelo meu rosto. Ainda não sei se foram lágrimas emocionais ou  efeito de cortar as cebolas. Mas em momento algum, tentei impedi-las. Hoje eu era livre. Absolutamente livre. E minhas lágrimas também seriam. Desceriam pelo meu rosto e seguiriam o caminho que quisessem. Exatamente nesse momento, Chico entrou na cozinha e viu minhas lágrimas.
- O que houve?
- Não sei. Acho que o amor
- O amor?
- É. Acho que ele acabou.
Chico me olhava. Buscava entender. Olhava para meu rosto como quem quer penetrar a alma e desvendar seus mistérios mais confusos. Olhava para meu rosto como quem quer perguntar, mas não tem certeza se quer saber as respostas.Olhava como se não soubesse o que.
- O nosso amor, Chico. Acho que ele acabou.
Pela primeira vez naquele dia inteiro, não me incomodou olhar para Chico. Olhei e vi que não era o mesmo. Corrijo-me: ele era o mesmo, quem tinha mudado era eu. A mulher que Chico amava não estava mais ali. Onde estava, então? Há quanto tempo não estava mais ali?
- Chico, é melhor a gente se separar enquanto ainda há respeito.
- É outro homem.
- Não, querido. Não há...
- Então por que você "decidiu" (Ele fez o sinal das aspas com os dedos. Como eu detestava aquilo!) que não me ama mais?
- Eu...
- Ou você nunca me amou? A nossa ideia não era de ser pra sempre? O que mudou?
Chico andava de um lado para ou outro enquanto levantava as mãos e as sacudia, depois colocava-as na cabeça e passava pelo rosto e teve seu rosto invadido por um tom tão vermelho como eu nunca vira antes. Não sabia se ele estava perguntando para mim, para ele mesmo, ou para o Deus que ele nunca acreditara. Foi então que chegamos ao momento crítico da conversa. Chico chorou.
- Eu nunca quis te magoar, mas é melhor ser sincera contigo. Eu não quero te enganar ou atrapalhar nossas vidas. Eu preciso te dizer o que penso e o que sinto. E não dá pra remendar um amor que se acabou. Até porque não foi culpa de nenhum dos dois, e não há explicação pra isso. Enquanto eu te amei, cada dia que eu amei você foi de amor totalmente sincero, profundo e verdadeiro. Mas agora...
Ele apoiou a cabeça na mesa da cozinha e ficou ali por um tempo. Enquanto isso eu o observava e sentia um carinho enorme, uma vontade de pegá-lo no colo e dizer que não precisa chorar, isso passa!, mas não sentia mais vontade de fazer o que sempre fiz, tentando fazer a realidade ser melhor para ele do que sua visão romântica do amor e do casamento. Agora eu via que nunca conseguira e nunca conseguiria fazer com que o mundo real do matrimônio fosse melhor que a perfeição imaginária dele. Toquei seu ombro, mas ele continuou imóvel.
No outro dia, levantei-me da cama sozinha, fiz o café sozinha, tomei café sozinha, tranquei a casa vazia, como se sempre fizesse aquilo daquela forma - sem Chico. Quando cheguei em casa, ele já buscara suas coisas e a casa estava mais vazia. Todos os cômodos, gavetas, armários, estantes, tudo. Chorei, mas disse em voz alta para mim mesma: Você sabe que foi melhor assim, querida.
Encontrei um bilhete de Chico em cima da mesa. O meu amor ainda não acabou. Meu peito doeu apertado por saber que ele estava sofrendo. Além de marido, ele era meu melhor amigo e só eu sei o quanto gostaria que continuasse sendo assim. Mas não seria. Eu nunca mais veria Chico - salvo o dia de assinar os papéis do divórcio. Eu quis ir até ele e abraçá-lo quando o vi na saleta. Mas o que ele fez foi levantar-se e sair ao me ver.


07/08/2010

quarta-feira, 8 de dezembro de 2010

Coração de pedra (Parte Final)

    Enfim, chegou o velho. Havia tamanha tensão no ar que ninguém se movia. Todos imaginavam e aguardavam a reação do velho. Ele chegou. Parou. Olhou. Viu. E não viu. Sorriu maliciosamente. Sorriu como quem venceu. Atravessou a rua e sentou-se à mesa vazia do bar. Manteve o sorriso, mas este passou ase desmanchar lentamente e deu lugar a uma expressão séria. Uma expressão tão séria e dura que parecia ser feita de pedra.
    A expressão séria e dura daquele senhor era surpreendente e aquela cena tornava o ato inédito. Ficaram ali parados assistindo como faziam diariamente, mas com a diferença da surpresa que, pela primeira vez, fazia parte da situação.
    O velho ficou imóvel ali até que a plateia não achou mais graça e parou de assistir. Talvez a discussão com a pedra tivesse mais emoção que a figura daquele velho que mais parecia uma estátua de praça quem um ser humano vivente.
    Quando ninguém mais o via, só um cachorro amarelo e emancipado, ele olhou para o último interessado na história e disse:
    "- Eu já tive vida, sabia?"
    Levantou e saiu, deixando o amarelo cachorro sem nada entender.

domingo, 5 de dezembro de 2010

Coração de pedra (Parte II)

    O velho passava pela rua e cada vez que passava, se encontrava com a pedra. Sim, a pedra ficava na rua e talvez não incomodasse ninguém, já que na rua não passava carro ou outras formas de locomoção moderna. Naquela pacata cidade, andava-se. E exatamente por andar, quem passava por aquela pedra - talvez sem forma para um homem comum, talvez uma obra de arte para uma alma mais artística e poeta, mas que continuava sendo uma pedra - só desviava sem se incomodar. Contudo, não era o que o velho fazia.
    Já disse que ele se encontrava com a pedra porque ele não passava pela pedra somente, como faziam os outros. Ele a encontrava, parava, olhava-a e, ao sentir-se sendo invadido pela raiva devido à presença da pedra, falava com ela sem cortesia palavras grosseiras e indagava por que ela ainda estava ali. Depois de esbravejar, saía resmungando por ver que a pedra não lhe obedecia. Quando ia, brigava. Quando voltava, retomava a discussão. No outro dia, tudo se repetia. A plateia se deliciava com cada apresentação daquele mesmo ato.
    Até que um dia, um expectador, talvez maldoso, talvez bondoso, talvez curioso, talvez engraçadinho, tirou a pedra de lá. Na verdade, nem se sabe se foi alguém mesmo que a tirou de lá, já que nunca descobriu-se um autor; ou se a pedra resolveu sair de lá depois de tantos insultos do velho.O fato é que a pedra tinha sumido e ninguém viu nada.


[continua] 
Parte I

sexta-feira, 3 de dezembro de 2010

Coração de pedra (Parte I)

     Era considerado louco, o pobre velho. Que fique bem claro que, ao dizer que o pobre velho magro era considerado louco, não aponto falsidade a quem o considera assim nem concordo com tal afirmação. Não sei o que acontecia com sua saúde mental e sei que todo mundo acha que sabe diagnosticar doenças - sejam elas físicas ou mentais - a partir do que vê na televisão. Sabendo disso e de somente alguns detalhes sobre o acontecido, é que começo a desenrolar a história.
     Já disse que era magro e mal vestido o pobre velho e que não agia como a maioria  age. Mas agia a cada dia como havia agido no dia anterior. A plateia que parava a vida e assistia o magro velho pobre sabia que todo dia ele agia como todos os dias, mas ainda assim paravam a vida e assistiam o velho. Não sei porque parava-se e assistia, mas sem porquê nem explicação era o que acontecia ali.
     O velho passava pela rua. Rua que não tinha carro pra passar. Rua de asfalto cinza feito por operário cuidadoso que nem se lembrava mais daquele asfalto ou que este tinha sido feito por ele. Asfalto cinza que era coberto por camadas antigas e novas de poeira e que faziam o asfalto deixar de ser cinza para ganhar uma cor  sem nome e sem referência possível. Era só isso: o velho, a rua, o asfalto, a poeira e a pedra. A pedra que tão simples é na vida, tão importante é para esse enredo. Se fosse uma novela, seria uma mocinha. Ou uma vilã. Ou um papel de destaque. Mas como não é, ela continua a ser pedra.
     Agora que já está exposto o cenário, posso começar a contar a breve história. Maiores detalhes tornam-se desnecessários. O que nos importa é o velho e sobre ele é que vou tratar.

sexta-feira, 19 de novembro de 2010

Feita d'água

    Um dia, enquanto conversávamos assuntos banais, seus olhos encheram-se de lágrimas, sem transformarem-se em choro, contudo. Parei de ouvir o que ela dizia porque fiquei prestando atenção nos seus molhados olhos (e a atenção masculina é limitada demais para ouvir outro assunto enquanto outra coisa é mais interessante). Cortei sua fala e perguntei se ela estava chorando. Ela disse que não, "sempre tenho lágrimas nos olhos". "Mas por que isso?" "Não sei".
    Fiquei olhando seus olhos e vi que as lágrimas os tomavam a ponto de quase transbordarem e depois simplesmente desapareciam. Fiquei mais intrigado ainda porque percebi que as lágrimas chegavam sem que ela estivesse num momento que trouxesse emoção, aparentemente.
    Num outro momento, mandei a ela um bilhete que parafraseava uma canção: "Há uma nuvem de lágrimas sobre os seus olhos..." Surpreendentemente, ela me respondeu num segundo bilhete: "Não. Há uma nuvem de lágrimas dentro dos meus olhos. O que me assusta é que não sei porque ela está aqui e não sei se um dia ela vai chover..."
    Me pareceu um bilhete triste, mas quando olhei-a, ela trazia um sorriso no rosto e duas lagoas nos olhos que sumiram tão rapidamente como se nunca tivessem estado ali.

domingo, 24 de outubro de 2010

sobre suas cartas

Ao encontrar sua carta, corro para me deliciar com suas letras dedicadas a mim.
Rasgo o envelope como se ele me separasse de você.
Abro a carta com esperança tamanha que mal cabe em mim.

Mas não há nada lá.
Mais uma vez, sua carta está em branco. Suas palavras não vieram me confortar. Você não disse nada. Mais uma vez.

domingo, 10 de outubro de 2010

Ar/chão

Já começo a sentir a volta do ar.
Acho que posso voltar a andar.

segunda-feira, 30 de agosto de 2010

Cântico Negro - José Régio

"Vem por aqui" — dizem-me alguns com olhos doces,
Estendendo-me os braços, e seguros
De que seria bom que eu os ouvisse
Quando me dizem: "vem por aqui"!
Eu olho-os com olhos lassos,
(Há, nos meus olhos, ironias e cansaços)
E cruzo os braços,
E nunca vou por ali...
A minha glória é esta:
Criar desumanidade!
Não acompanhar ninguém.
Que eu vivo com o mesmo sem-vontade
Com que rasguei o ventre a minha Mãe.
Não, não vou por ai! Só vou por onde Me levam meus próprios passos...
Se ao que busco saber nenhum de vós responde,
Por que me repetis: "vem por aqui"?
Prefiro escorregar nos becos lamacentos,
Redemoinhar aos ventos,
Como farrapos, arrastar os pés sangrentos,
A ir por aí...
Se vim ao mundo, fdi
Só para desflorar florestas virgens,
E desenhar meus próprios pés na areia inexplorada! O mais que faço não vale nada.
Como, pois, sereis vós
Que me dareis impulsos, ferramentas, e coragem
Para eu derrubar os meus obstáculos?...
Corre, nas vossas veias, sangue velho dos avós,
E vós amais o que é fácil!
Eu amo o Longe e a Miragem,
Amo os abismos, as torrentes, os desertos...
Ide! tendes estradas,
Tendes jardins, tendes canteiros,
Tendes pátrias, tendes tectos,
E tendes regras, e tratados, e filósofos, e sábios.
Eu tenho a minha Loucura!
Levanto-a, como um facho, a arder na noite escura,
E sinto espuma, e sangue, e cânticos nos lábios...
Deus e o Diabo é que me guiam, mais ninguém.
Todos tiveram pai, todos tiveram mãe;
Mas eu, que nunca principio nem acabo,
Nasci do amor que há entre Deus e o Diabo.
Ah, que ninguém me dê piedosas intenções!
Ninguém me peça definições!
Ninguém me diga: "vem por aqui"!
A minha vida é um vendaval que se soltou.
É uma onda que se alevantou.
É um átomo a mais que se animou...
Não sei por onde vou,
Não sei para onde vou,
- Sei que não vou por aí!

segunda-feira, 16 de agosto de 2010

olhos de céu

Tocou meu braço.
Olhei-a.
Rosto tão sereno e tão perdido.
Olhos de céu.
Que outro lugar poderias estar, se não no "mundo da lua", como julgam?
Lugar melhor que nossa pobre terra pobre.
Ofereceu-me um pouco de feijão.
Não, obrigada.
Perguntou-me algo que não entendi.
Respondi que sim.
Ela sorriu.
Sorriu com os olhos.
Com os olhos de céu.
Saiu sem se despedir.
Ficou sem se apresentar.
Adeus, velha menina.

quinta-feira, 12 de agosto de 2010

pontuação

Não houve um ponto final.
Ainda que dúvidas existam, nunca fostes um ponto de interrogação. Não há indagações claras.
Por um momento, acreditei que vivia um ponto de exclamação.
Só uma vírgula? Talvez. Talvez não.
Nos meus sonhos, seriam dois pontos.
Mas o que há realmente são as reticências... Sempre ali... Deixando escondido, calado, subentendido...
ponto ponto ponto

quarta-feira, 4 de agosto de 2010

fim

O toque gelado da arma na testa foi como um despertador para o que estava acontecendo. Cerca de meio segundo para a bala sair da arma. Quanto tempo para atravessar minha cabeça? Tempo suficiente para assistir o famoso filme da minha vida.
Oh, Deus! Eu vou morrer! Mais ainda - vou deixar de viver! E todas as coisas que deixei de fazer? O lixo deveria ter sido colocado lá fora.... E tudo que eu deveria ter dito a você. Coisas que você nunca vai saber.
Será que você chega aqui antes que meu corpo esteja sem alma? Dizem que a audição é o último sentido que morre...Queria ter tua voz como último rastro de vida em mim
Meu assassino fala comigo. Não quero ouvir. Sei que nada vai adiantar. Chegou a hora. Não ouço nada. Acho que era mentira,  a audição é o primeiro sentido a morrer.
O gelo deixou minha testa. 
Salvação.
Soco quente no nariz. 
Ilusão. 
Visão da arma olhando para mim. 
Concluo. 
O trajeto da bala até mim. 
Chão.

menino

Uma sacola amarrada por uma linha.
A sacola colocada para fora do ônibus.
A outra ponta da linha segurada por pequenas mãos.
Tão simples brincadeira.
Nos olhos do menino o sentimento que há tempos não reconhecia: felicidade genuína.

terça-feira, 27 de julho de 2010

Meninas

    "Um professor disse para a menina que só havia um jeito de compreender o Universo. Ela devia pensar numa esfera dentro de uma esfera maior, dentro de uma esfera ainda maior, dentro de uma esfera maior ainda, até chegar a uma grande esfera que incluiria todas as outras, e que por sua vez estaria dentro da esfera menor. A menina então entendeu que a sua melhor amiga Rute tinha razão, era preciso botar o CEP. Num universo assim, era preciso fixar um detalhe para você nunca se perder. Nem que o detalhe fosse a mancha no teto do seu quarto com o perfil da tia Corinha, a que queria ser freira e acabara sendo oceanógrafa.
     A menina disse para a Rute que era preciso escolher um detalhe da sua vida, em torno do qual o Universo se organizaria. Cada pessoa precisava escolher um momento, uma coisa, uma espinha no rosto, uma frase, um veraneio, um quindim, uma mancha no teto - um lugar no Universo em que pudesse ser encontrada, era isso.
     - Pirou - disse a Rute."


trecho de "Meninas", de Luís Fernando Veríssimo

sábado, 24 de julho de 2010

sempiterno.

   A proximidade entre os dois aumentava enquanto o espaço entre eles diminuía. Ela já podia sentir a respiração dele e já não sabia quem - ele ou ela - respirava naquele momento. Talvez a respiração dos dois tornara-se uma só. Um inspirava o que o outro expirava, um sentia o ar que entrava no pulmão do outro, inspiravam agora o mesmo oxigênio, expiravam serenidade e ansiedade.
   O primeiro toque não descobrira a boca de imediato. Fora um beijo de almas. Ela sentira o que não poderia ver. Entre eles havia uma vibração que saía daquele pequeno espaço e atingia o mundo todo. Ela sentia a humanidade sendo banhada pela luz que saía do "quase contato físico".
   Finalmente as bocas se encontraram. O beijo. O coração disparado era inevitável. Mas este fora o mais simplório dos sintomas. Era estranho o que sentira. O beijo trouxera para sua boca um gosto de sangue.   
   Poucos segundos, mas que permitiram-lhe uma avalanche de pensamentos. Sangue? Sim, mas não o sangue de morte - gosto de sangue de quem morre ou que mata. É sangue que mostra a vida. Sangue que corre nas veias e bombeia o coração. Isso lá é hora de fazer poesia?
   Seu sangue aquecera todo o seu corpo. Dualidade do que aquece e queima; do que é docemente amargo; do que é lindamente triste; do que é belo sem rosto; do que é uma antiga novidade; do que mata vivendo e vive morrendo; do que traz prazer com seu veneno, veneno que mata com satisfação da vítima e do matador - mais satisfação daquele ou desse? Saudade de sentir o que nunca vivera antes. Sentimentos? 
   Lentamente as bocas se desgrudavam. Os pensamentos ainda dominavam sua cabeça. Nada disse. Nada ouviu. Falou com os olhos. Obteve resposta. Sentiu vontade de chorar. Sorriu, entretanto. Arrepio no braço. Frio? Alguém chamou seu nome. Hora de ir. Despedida sofrida. No fundo, não queriam se separar. No sentido mais amplo da expressão.
   Saiu de lá acompanhada da certeza de que nunca mais se veriam. Como eu sei? Eu só sei.

quarta-feira, 21 de julho de 2010

explicações de um amigo

Querida,

     Desculpe-me, anjo meu. Não pude tratá-lo de outra forma. Talvez se o atentado fosse contra mim, conseguisse ignorar o fato  esquecer a dor. Mas sabendo que teu coração foi partido porque ele partiu; sabendo que aquele ser é responsável pelo teu sofrer; sabendo que as lágrimas que não consigo conter saem de ti porque ele não consegue te dar a felicidade que mereces; sabendo que não sei o que fazer para salvar-te do abismo da dor; não consegui.
     Tratei-o sem amabilidade ou educação. Agi como se nunca tivesse sido educado e conhecedor das boas maneiras. Só não agi como um animal irracional, ataquei-o e dei-lhe uma surra ali mesmo porque... porque... não sei porque. Deveria ter feito.
     Perdoe-me. Sei que não aprovas esse meio violento de resolução dos problemas. Sou pacífico também, bem sabes disso, mas compreenda... há momentos em que o instinto fala mais que a razão. Fique calma. Não o fiz. A agressão aplicada foi totalmente verbal. Pensei em ti quando quis vê-lo morto. Pensei na sua decepção ao saber do meu feito. Pensei na sua dor maximizada por responsabilidade minha. Pensei que queria vê-lo morto, mas então pensei se seu luto mortal valeria a minha felicidade pela destruição letal dele. Não. Ver-te sofrer me mata. Mata-me de morte mais mortal que a morte física dele.
     Espero ansiosamente o dia em que não mais desejarei o mal do sujeito supracitado e somente estarei em estado de felicidade por saber que não mais o amas e que não mais sofres pela dor desse amor. Sinto-te como parte de mim, talvez a melhor. Desejo tua felicidade com mais fervor do que à minha própria. Desejo que entendas o que preciso fazer.
Com grande amor,
.

sábado, 17 de julho de 2010

vidas separadas

Queria eu continuar amando-te com aquela genuína amizade de quem dá amor sem esperar nada em troca.
Queria eu convidar-te para a minha vida pelo simples prazer de ter-te ao meu lado.
Queria eu não sentir culpa por não me sentir tão a vontade como antes ao estar contigo.
Queria eu dizer-te meus segredos como quem diz qualquer coisa sobre o tempo.
Queria eu que nossas vidas, involuntariamente, não tivessem se distanciado tanto.
Queria eu que nossos pensamentos ainda fossem diferentes mas, mesmo assim, conseguissem conviver juntos.
Queria eu ser ainda parte de ti e tu parte de mim.
Queria eu te amar sem culpa por não te amar como já te amei..
Queria eu pensar que pudesses ser parte do meu futuro como fostes do passado, mesmo que não esteja mais como esteve - no presente.
Sem culpa minha, sem culpa sua, não somos mais o que fomos.

sexta-feira, 9 de julho de 2010

texto ruim que ficou guardado no meu caderno por um tempo.

O bom de não ter pra onde ir é também não ter a decepção por não chegar.
O mágico de não saber nada é aprender qualquer coisa com qualquer merda.
O bonito em não se sentir dono de ninguém é ter a certeza de nunca sentir que perdeu ninguém.
Viver no nada faz qualquer acontecimento subitamente se tornar tudo.
Não sentir nada faz o perfume de uma flor  ser a melhor sensação do mundo.
Ser sozinho aflora o encanto de todos os outros.

quinta-feira, 8 de julho de 2010

breve contato

Com papéis e um lápis preto ele rodava o mundo. Não morava em lugar nenhum, todos os lugares do mundo moravam nele. Não falava com sotaque algum, porque todos os sotaques do mundo falavam dele.
No pior lugar em que poderia estar, encontrara um grupo de estranhos universitários que riam e bebiam num canto da praça. Tantas coisas se passavam em sua cabeça que ele nem notara tudo o que contava a eles. Naquele momento sua vida não era mais uma vida - era a mais bela história do mundo que fazia dos olhos daqueles jovens faróis iluminados.
Ele nunca vai imaginar o quanto ensinou, mas eles sabem o quanto aprenderam. Uma vida toda mostrada/ensinada/ilustrada em um espaço de tempo tão curto - a pintura de um quadro - a pintura de uma vida.



Algum dia de novembro de 2009.

terça-feira, 6 de julho de 2010

Ausência total de inspiração.
Temporariamente.
(Pelo menos assim eu espero.)

quarta-feira, 30 de junho de 2010

"Quando me dirigia para a praia para chamar a barca, pareceu-me que todo o povo pequeno e escuro estava à minha volta e que eu andava entre eles como a sacerdotisa que fora. Estava sozinha na barca, porém sabia que outras estavam comigo, vestidas e coroadas. Morgana, a Donzela, que levava Artur à caça do veado e ao desafio ao Gamo-Rei; Morgana, a Mãe, que se partira em pedaços quando Gwydion nasceu; e a rainha de Gales do Norte, exortando o eclipse para incitar Acolon enfurecido contra Arthur, a sombria rainha das fadas."



As Brumas de Avalon Livro IV

quinta-feira, 17 de junho de 2010

sexta-feira, 11 de junho de 2010

Cama, mesa e banho

I- Exausta de chorar, deitei-me na cama à procura de um "sono espesso e sem praia", como o de Carlos. Procurava que a noite do meu coração se tornasse literal. Procurava o esquecimento. Mas o que encontrei foi a dor ao sentir o colchão ainda úmido pela toalha que ele deixara de manhã.
A toalha molhada na cama que já trouxe tantas brigas.
A cama que já presenciara tantos momentos de amor. Amor? Ou só paixão?
Como um colchão gelado podia me trazer tanta dor? Como um colchão poderia ser tão gelado? Como o meu corpo não conseguia aquecê-lo? Como o meu corpo sozinho não consegue se aquecer? Desisto. Fraca que sou, melhor dormir no sofá, para não morrer.

II- Prato cheio.
Coração vazio.

III- A dor me anestesiou.
O choro me secou.
O corte me fechou.
A luz voltou.
A fome voltou.
A sede passou.
Ainda assim, meu corpo se derramou
e escorreu pelo ralo do chuveiro.
Só uma pedra, no chão, ficou.
Chamam-na coração.


04/06/2010

terça-feira, 8 de junho de 2010

Estado de defesa

Situação jurídica excepcional e emergencial, decretada quando a ordem pública ou a paz social se encontram ameaçadas por grave e iminente instabilidade institucional, ou atingidas por calamidade natural de grandes proporções.

Trecho de uma carta nunca entregue

Alguém poderia me dar a receita de como se é gente. Não deve ser tão difícil. Tanta gente é gente. tanta gente sabe ser gente. E eu nem sei por onde começar. Me jogaram nesse mundo sem fim, mas não me disseram como fazer isso. Por isso eu fiquei assim - sem explicação, sem rumo, sem saber o que fazer.
Tenho a impressão que as pessoas que não são gente não o são porque não querem ser. Não encontrei ninguém que também não soubesse ser gente.
Não faço questão de ser gente. Mas faço questão de ser. Não sei o que estou, mas sei que não sou. E é tão triste não ser. Talvez essa seja a primeira vez que eu me importo por não ser. Não estive preocupada por não ser durante todo esse tempo, mas agora vejo quão ruim pode ser não ser.
Se não vegeto, se não vivo, o que faço? Se as pessoas não são gente sempre, se não podem ser personagens nunca, saberei a utilidade delas, aqui, no meu mundo?

quarta-feira, 2 de junho de 2010

Sabe o que eu queria? Que um "ano novo" viesse e não fosse nada do que eu quero...

Queria que ele aparecesse e fosse extremamente surpreendente. Um ano como eu nunca pensaria que pudesse ser.
Mas isso não acontece... Todas as coisas surpreendentes já aconteceram em outras histórias e se tornaram banais.
A minha história chegou atrasada pra ser conto de fadas legal.

26/12/2009

Sem conhecer

Eu sei que sua cor preferida é verde, ainda que você me diga que é vermelho.
Eu sei que você adora aprender, mas não gosta muito de estudar.
Eu sei que você gosta de estilos de músicas diferentes, ainda que não seja eclético.
Eu sei que você briga com as pessoas que ama, exatamente por amá-las.
Eu sei que você tem esse ar de que nada está acontecendo, mas que em sua cabeça acontecem mil coisas ao mesmo tempo.
Eu sei que você nunca viria à festa onde eu gastei a minha noite inteira deste sábado.
Eu sei que você poderia beber a mesma quantidade de bebidas que eu sem ficar com metade da minha embriaguez.
Eu sei que você me acharia ridícula se me visse assim- sentada no meio da faculdade, achando todas essas pessoas ridículas, escrevendo para você num pedaço de papel velho.
Eu sei que saber me faz sofrer, porque eu sei quão bom você é pra mim.
Eu sei que você nem sabe que eu existo, enquanto eu já sei tudo sobre você.
Eu sei tudo sobre você, sem saber nada sobre você.
Eu sei que não deveria te escrever sem te saber.
Eu sei que não saberei o que fazer quando souber quem você é, realmente.
Eu nem sei seu nome, nem sei de onde veio, nem sei de nada. Mas eu sei de tudo. De alguma forma, sei.


28,30/05/2010

terça-feira, 1 de junho de 2010

Eu, parede...

Encostei-me na gélida parede. Sua aspereza de repente tornou-se tão agradável que eu queria que fosse parte de mim. Desejos se transformam em realidade? Dessa vez, sim. Aos poucos ela foi se tornando parte de mim e eu, parte dela. Quando percebi, estava assim: parede.
Todos passam por mim e alguns até me olham, mas ninguém me vê. vez em quando, alguém crava em meu peito um prego. Vez em quando, alguém pendura em mim um quadro bonito ou me passam uma mass(car)a, escondendo minhas rachaduras. Dizem que eu fico mais bonita assim. Ouço tudo. Mas nada falo.
Dia desses, tentei falar com uma porta- mas ela não me respondeu. Fica ali, se fechando e se abrindo para qualquer um e ainda leva fama de burra. Não sei se é, realmente. Também tentei conversar com a janela, mas a pobre só fica a suspirar olhando para o mundo lá fora e imaginando todo o resto que não pode ver. Com o chão, não falo mais, não. Ele só reclama de sua condição de ser pisado sem ter atenção devida. Os quadros daqui dizem que não podem se mexer para não estragar a pintura. Não sei se ainda quero ser parede. Um móvel qualquer, talvez fosse melhor.
Shh. Estão dizendo algo.Ouça! Não entende? Querem me derrubar - dizem que eu não combino com o resto.
Vou sair daqui. Não vou ficar parada esperando minha queda.
"Mantenha- se aí. Cada um tem o destino que merece. Você quis ser parede. Seja parede!" diz a porta.
"Não adianta deixar de ser parede. Serás outra coisa pior... E eu preciso que fique, para que eu possa ver tudo lá fora. Mantenha-se parede. Mantenha-me aqui." diz a janela.
"Deixa de ser parede e venha ser chão, para ver o que é ser sofrimento" , diz o chão.
Os quadros nada dizem.
Saio da parede.
Todos me olham, na espera que eu saia e os deixe. E deixe ser a parede ser derrubada.
Saio da sala.
Compro uma briga dura com os donos da casa e consigo manter toda a casa - inclusive a parede - de pé.
Volto à sala.
A porta me diz que seria melhor ter deixado a parede ser derrubada. A janela concorda - sem parede o mundo poderia ser melhor visto. O chão me diz que eu só saí para pisar nele. Os quadros nada dizem.
O que ninguém percebe é que virariam entulho sem a parede para apioá-los. Mas continuam a reclamar.


12/05/2010

De novo.

Foda-se.

segunda-feira, 31 de maio de 2010

Por aí - Cazuza

Se você me encontrar assim,
Meio distante,
Torcendo cacho,
Roendo a mão...
É que eu tô pensando
Num lugar melhor
Ou eu tô amando-
E isso é bem pior...

Se você me encontrar
Rodando pela casa,
Fumando filtro,
Roendo a mão...
É que eu não tô sonhando.
Eu tenho um plano
Que eu não sei achar
Ou eu tô ligado
E o papel, e o papel
E o papel pra acabar

Se você me encontrar
Num bar, desatinado,
Falando alto coisas cruéis
É que eu tô querendo um cantinho ali
Ou então descolando
Alguém pra ir dormir

Mas se eu tiver nos olhos
Uma luz bonita
Fica comigo
E me faz feliz
É que eu tô sozinho
Há tanto tempo
Que eu me esqueci
O que é verdade
E o que é mentira em volta de mim...

terça-feira, 25 de maio de 2010

melhor sem título

"O mundo é muito mais água do que eu posso beber."
Fiquei pensando nisso o dia todo... Por que é tão impossível beber o mundo?
"Se eu pudesse, guardava tudo numa garrafa e bebia de uma vez."
Se tudo (tudo mesmo! no sentido mais amplo da palavra) viesse de forma destilada, fermentada, diluída, líquida!, seria tudo o bom... O gosto talvez fosse um pouco amargo, mas tenho certeza que seria bom.
Sei que tenho esse complexo de querer "abraçar o mundo com as pernas".
Sei que nunca consigo.
Sei que continuo insistindo, mesmo sabendo que nunca consigo.
Sei que marquei trinta mil coisas com trinta mil pessoas para essa semana, e ainda me iludo como se fosse conseguir. É uma pena... Enfim. Isso não é importante.
Há tanta coisa acontecendo ao mesmo tempo, que eu morro ao lembrar que não consigo acompanhar tudo.
Há tanta coisa pedindo para ensinar, pedindo que eu aprenda... É uma pena que não dê tempo para tudo.
"O infinito é realmente um dos deuses mais lindos." Sem fim. Sem acabar. Para sempre. Como uma coisa pode me atrair tanto e me amedrontar na mesma proporção?
E o tempo é tão cruel! Nunca espera, sempre correndo, sem pensar em ninguém, sem deixar que ninguém consiga beber o mundo! Sem deixar que eu beba o mundo!
Não sei o que escrevo. Não sei o que penso. Não sei o que acontece. Só corro atrás do tempo para conseguir transcrever tudo o que se passa na minha cabeça, sem me importar se alguém vai entender. Sem me preocupar se eu vou entender.
"Seja rude e escreva sem respeito, porque quem lê não é digno do esforço daquele que escreve. Seja você mesma na sua escrita. O caos só consegue ser tão perfeito porque não respeita nada, ele anda sobre o tempo e passa por tudo sem se importar aonde esbarra e o que pode causar."
O caos.
Sempre disse que eu era um caos.
Depois dessa visão de caos, não me considero mais parte dele.
Acho que não sei o que sou agora.  Sou uma desorganização, principalmente quando escrevo. Ou talvez não "principalmente". Escrever desorganizadamente talvez seja só um reflexo da minha desorganização de vida mesmo. Sendo eu mesma na minha escrita...
O chapeleiro maluco talvez não seja tão maluco assim. Talvez seja mais inteligente que todos nós. O tempo não é uma coisa que possa ser gasta ou perdida... O tempo é uma pessoa. Uma pessoa com autonomia bastante forte para decidir o que faz sem pensar em mais nada ou em mais ninguém.
Fiquei pensando na minha relação com o tempo. Não sei se ele é meu amigo, ou se ele me odeia. Talvez qualquer dia ele me obrigue a tomar o chá das cinco para sempre ou também pode ser legal pela madrugada e só me derrubar no final...
Não sei mais do que estou falando.
Momento totalmente psicodélico, sem nenhuma droga ou bebida. Juro.
Quando ordenar meus pensamentos, eu volto.

Kisses.

sexta-feira, 21 de maio de 2010

Pirenópolis domingo.
Vamos?

Mornidão

Ouvi uma vez: "É impressionante. É só eu ficar solteira que todo mundo perde a graça."*
Será o ônus da solteirice? Todas as pessoas estão tão insípidas e incolores... Já sei que o problema é comigo porque uma "epidemia do sem sal" não poderia afetar todo mundo assim. Os lugares estão normais, as coisas também. A fumaça sem graça só atingiu as pessoas.
Não as ignoro como normalmente, porque ainda tenho esperanças de encontrar alguém que tenha se salvado. Cada um tira um pouco dessa minha esperança porque estão todos com gosto de chuchu ferventado; de poema estragado; de melancia esbranquiçada; de chiclete velho; de palhaço sério; de meio de tarde ociosa; de beijo sem amor nem desejo; de distância sem saudade; de ricota; de água morna.
É isso. Estão todos mornos.


17/05/2010




* fala de Camila Lopes em Nome Próprio. Não foi bem isso que ela disse, mas foi quase.

segunda-feira, 17 de maio de 2010

pensamento breve

Já perceberam como temos a mania de interferir nas vidas das pessoas?
Mas é estranho... Se alguém se intromete, nos irritamos. Se não nos deixam intrometer, nos indignamos por não nos deixarem exercer nosso "direito".
Não quero mais ser assim.
Fora da vida de todos e de cada um.
Melhor assim, não é?

sexta-feira, 14 de maio de 2010

"Fale-me e eu esquecerei.
Ensine-me e eu poderei lembrar.
Envolva-me e eu aprenderei."

Benjamin  Franklin

quarta-feira, 12 de maio de 2010

A um rebelde sem causas claras

Como salvo-te, caro amigo,
desse breu que te engole,
desse caos que te acompanha,
dessa dor que te carrega?

Como posso reaver para ti
teu brilho roubado,
tua alegria perdida,
tua alma vagante,
tua antiga forma de viver?

Como posso trazer-te de volta?
Como te ajudo a ser o que era?
Sei que há a salvação-
mostre-a a mim, então.


10/05/2010

terça-feira, 4 de maio de 2010

carta entregue

Não sei por que hoje te escrevo. As ideias voam soltas na minha cabeça e eu não consigo controlá-las.

Te escrevo na tentativa de me ler, porque não me entendo. Te escrevo porque desisti de esperar que me leia sem que eu te diga nada. Te peço, sem nada dizer, que me entenda - sem que eu nada diga. Mas vejo em você o que queres: que eu diga, diga, diga. Me desculpe, meu caro. Infinitas coisas não direi. E ainda que eu diga, não lerás. As pessoas não são legíveis.
Às vezes eu lia algumas pessoas para que elas fossem escritas depois. "Eu lia", eu disse? Não, não lia. Fingia ler para que pudesse escrever nelas histórias (antigamente, estórias) inexistentes.
Mas as pessoas que conheço - no sentido mais superficial da palavra - eu sempre soube que nunca poderia ler. Entretanto, mesmo sabendo que as pessoas não são legíveis, como já te disse, fico a esperar que alguém me leia para depois me contar o que acontece nesse estranho ser.
Ainda não sei ler as coisas e sinais - isso, sim - é legível, mas já posso vê-los. Mas te confesso que sinto medo. Acho que estou enlouquecendo. Mas você não entenderia. Mas deixa pra lá.

30/03/2010


Carta escrita e entregue a um destinatário. Mas tive vontade de dividi-las com vocês também.
Amo vocês.
Beijos

sexta-feira, 30 de abril de 2010

Em face dos últimos acontecimentos

Oh! sejamos pornográficos
(docemente pornográficos).
Por que seremos mais castos
que o nosso avô português?

Oh! sejamos navegantes,
bandeirantes e guerreiros
sejamos tudo que quiserem,
sobretudo pornográficos.

A tarde pode ser triste
e as mulheres podem doer
como dói um soco no olho
(pornográficos, pornográficos).

Teus amigos estão sorrindo
de tua última resolução.
Pensavam que o suicídio
fosse a última resolução.

Não compreendem, coitados,
que o melhor é ser pornográfico.


Propõe isso ao teu vizinho,
ao condutor do teu bonde,
a todas as criaturas
que são inúteis e existem,
propõe ao homem de óculos
e à mulher da trouxa de roupa.
Dize a todos: Meus irmãos,
não quereis ser pornográficos?



terça-feira, 27 de abril de 2010

para quem se foi sem ter ido

Não sei o que fostes
Sonho, ilusão, invenção?
Não sei se sua beleza
foi tanta por ter sido tão rápido.
Não sei se me pareceu tão rápido
por me ganhar com tamanha estranheza.
Não sei se te vivi ou te sonhei.
Não sei se um dia te terei.
Não sei se de novo te verei.
Não sei.

16/03/2010

Cegas visões

Já não gosto de ter esses pressentimentos e visões.
Já não sei se prever o futuro é coisa boa, mas sei que vê-lo dessa forma - embaçada e confusa - não é.
Já não tenho certeza se tudo acontecerá como parece ou se será exatamente o contrário, mas saber que não poderei mudar torna o sentimento de impotência doloroso.
Já não acredito que São Jorge realmente está matando o dragão. Pela primeira vez, imagino que enigma a bela e redonda lua nos prega. O dragão sumiu. São Jorge também. Só não consigo entender que imagens são essas.A luz é forte demais para que eu veja sem me cegar.
Todos esses pensamentos não vão me deixar dormir, mas também não me levam a lugar nenhum. Já não sei traduzir a linguagem lunar, mas ela ainda fala comigo.
Lua amiga, deixe-me continuar na ignorância - pensando saber seus símbolos e signos. Sua magia é avançada demais pra mim. Tenho medo de não conseguir, minha querida. Tenho medo de ver nossos diálogos se transformarem em monótonos monólogos.


29/03/2010

sexta-feira, 23 de abril de 2010

tem louco pra tudo...

Comecei a pensar quantos anos aquele senhor teria. Minha mãe me falara o que ouvira de minha avó, que ouvira de sua mãe, que ouvira sabe-se lá de quem. O que acontecia é que todas as outras pessoas também sabiam dele. E sabiam o mesmo: ele era o louco da estação rodoviária. Sempre com suas velhas botas calçadas sobre calças sociais verdes, tendo como complemento um surrado paletó azul. Sua vestimenta era completada por um boné. Sempre o mesmo. Sempre do mesmo jeito. Sempre no mesmo lugar. Sua bengala lhe dava um ar de malvado; talvez por isso as pessoas mantinham distância dele.
Contudo, o que mais chamou minha atenção foi a pasta abarrotada de papéis que ele trazia consigo. Eram papéis não tão velhos mas já usados. Ele se agarrava àquela pasta com tamanho amor que não pude suportar a curiosidade de saber o que havia lá.
Segui-o com  os olhos durante um tempo até que ele se sentou num banco e abriu a pasta para pegar algo. Sentei-me num banco atrás dele para ver sem ser vista. Não dava pra ver muita coisa, além de palavras escritas. Ele abriu novamente a pasta e o tempo parou naquele instante... Eram poemas! E havia tantos lá dentro que meu coração pulsava com puro entusiasmo. Queria tanto lê-los, mas fui inconscientemente impedida pela velha lenda do "maluco agressivo".
Fiquei ali olhando até que uma voz marcante, mas suave, me falou: "Gosta de poesia?" Não tive voz para responder, apenas assenti com a cabeça.
Ele sorriu, fechou a pasta, se levantou e saiu. Só não soube quanta admiração pela sua "loucura" deixou em mim.


01/03/2010

sexta-feira, 9 de abril de 2010

Já me basta toda a minha confusão habitual.
Por favor, não me confundam mais.

Para você!

Quer ser meu correspondente por cartas?
Negócio sério.
Nada a combinar.
Basta saber ler e escrever e ler e escrever e ler...

sexta-feira, 19 de março de 2010

Meus textos estão espalhados nos meus cadernos, em folhas soltas, ou por aí... no vento.
Assim que encontrar um interessante, posto aqui de novo.
Espero que ainda me amem, mesmo na minha ausência... hehehe

ah, eu continuo amando vocês, ok?

segunda-feira, 15 de março de 2010

Vou ficar aqui, assim, parada, estática...
Não vou evitar, contudo não corro mais atrás.
Talvez isso possa atrapalhar coisas possivelmente boas.
Mas se essas coisas precisam mesmo acontecer,
elas acontecerão.

Veremos, então.

Aguardem as novidades.

sexta-feira, 5 de março de 2010

Feliz ano novo, Mafalda

"- A fome e a pobreza no mundo acabaram?
As armas nucleares foram suprimidas?
Sim?
- Bemmm... Acho que não, filhinha
- Então para que foi que a gente mudou de ano?!"

quinta-feira, 18 de fevereiro de 2010

Momento de caos.
Volto assim que puder.
P.S.: Tô morrendo de saudades do meu blog amado e dos melhores leitores do mundo!
Amo vocês!
Kisses

sexta-feira, 29 de janeiro de 2010

D ex-equilibrando

Minha neta e minha avó vivem numa guerra sem fim.
Bombardeiam meus pensamentos com opiniões contrárias.
Não encontro uma solução para mantê-las em paz, como uma família deveria ser. Elas não se entendem e, pior, querem que eu me decida sobre qual das duas escolher como minha preferida.
Não posso explicar como estar com aquela garotinha é bom. Diversão além do imaginável!
Mas os conselhos daquela senhora são fundamentais. Ela sabe me fazer agir racionalmente nos momentos precisos.
Quero as duas, mas não pode ser.
Vou levando-as assim... Em guerra, juntas a mim, como se estivéssemos em paz.

"Os deuses me convidam para dançar no meio fio..."

terça-feira, 26 de janeiro de 2010

Contra a igualdade.

Senti medo que todos fossem realmente iguais;
que a humanidade fosse atingida pela igualdade.
Olhei a igualdade. Que triste ela estava!
Em cada olhar, tristeza e cansaço.
Procurei qualquer um que estivesse fora dela.
Ninguém.
Ninguém!
Ninguém?
Eu também?
Eu seria igual?
Olhei o ser que me olhava de dentro do espelho.
Não parecia cansado. Triste? Talvez.
Estaria seguindo os passos da igualdade?
Ou não? Não?
Não!
O desespero me encontrou, mas a salvação veio logo depois.
Um sorriso saiu do meio da multidão.
Tinha tamanha grandeza que precisava se mostrar para o mundo.
Pensou melhor.
Não se mostrou para o mundo todo.
Se mostrou para si mesmo.
Mas o "si mesmo" não soube suportá-lo.
Precisou mostrar para o mundo.
Porque o que não cabe em si mesmo,
caberá no mundo.
Caberá no mundo?
Não caberá.
Mas coube num instante que me mostrou
que não estaria tudo perdido.
Ainda são diferentes.
Em meio à escuridão da tristeza,
ainda há um sorriso.
Em algum lugar
há.
Que bom.
Sorri também.
Não sou igual.

sexta-feira, 22 de janeiro de 2010

A Caminho do Céu

Ok, hoje eu vou publicar um dos meus textos favoritos de um dos meus escritores favoritos. Ah, veio de um dos meus blogs favoritos. Sempre tenho uma impressão diferente cada vez que leio esse texto, mas em todas elas, eu adoro. Espero que gostem tanto quanto eu. Então, boa leitura! =]

"A Caminho do Céu
Rodolfo Alves

O semblante encontrava-se ausente de sua face. Sua vida procurou outros caminhos e esqueceu de lhe avisar. Seu mundinho pequeno de meios colegas ia-se lentamente. Sua existência não mais encontrava um porquê algum de continuar a sê-la. Não sabia explicar, mas entendia bem, não conseguia assimilar, apenas aceitar.

O seu corpo escarnava delírios e mistérios em meio às suas auto-confissões. O muro de aço que a cercava se tornara tão espesso, duradouro e forte que não havia aquilo que a fizesse desmoronar. A linha da sua vida finalmente atingira um patamar mínimo e retilíneo. A sua poesia não mais brotava. A sua perspicácia não mais se regulava e, por um momento, ela percebeu que sua loucura não passava de um tênue excesso de lucidez.

Depois de tantos esforços em vão, ela finalmente se encontrava acima de todos, acima de qualquer um, desde os que a apoiaram até os que a apedrejaram. Foi chamada prostituta, foi usurpada do seu próprio trono, espancada, chicoteada, enfim, destruída.

Mas naquele instante - e que instante! - ela se viu acima de todos, ali ela era o centro das atenções, era o motivo do embranquecer dos cabelos, a borboleta que criaria asas. O inicio do fim. O seu ser agradecia a existência daquele doce e breve momento: o mundo debaixo dos seus pés.

Então, eis que, na beira da cobertura do edifício, próxima do céu, à luz do dia, à luz de todos, ela se entrega ao sabor do vento. Para muitos ela caia, mas ela flutuava, e no seu breve e infinito flutuar, o calor do sangue aumentava até se esfriar abruptamente: plugt! Ela encontra a sua paz."


 

quarta-feira, 20 de janeiro de 2010

badaladas para cinderela

Ela acordou na cama dura com dores em todo o corpo.
Não abriu os olhos. Sentiu que pessoas a observavam.
Ficou deitada, com os olhos fechados, lembrando-se porque estava ali.


Tinha ido àquele teatro para assistir uma peça infantil.
Mas por que entrara ali? Até onde se lembrava, não conhecia nenhuma criança que se apresentaria.
Claro, tinha bebido meio estoque do bar em frente. E, bêbada, entrou naquele lugar onde tantas pessoas entravam. Não se lembrava se comprou ingresso ou foi penetra, mas isso não importava.
Entrou, sentou e esperou que a peça começasse.
CINDERELA
Por que faziam as pobres crianças interpretarem aquilo? Ninguém mais aguentava aquela história. ELA não aguentava aquela história. Mas prestou atenção mesmo assim.
Quando chegou a um momento da história (mais claramente quando a princesa corre do príncipe à meia-noite), ela subiu ao palco, pegou delicadamente o rosto da menina  que fazia a princesa e falou a ela, mas para que todos ouvissem:

"Vá embora, minha querida. Mas não volte. E não o espere voltar. Ele não vai te procurar, nem colocar seu sapatinho em todos os pés da cidade à sua procura. Ele não vai se preocupar com o motivo pelo qual você foi embora correndo. Ele vai voltar para a festa e achar outra vagabunda. Você vai ser mais feliz se souber que esse príncipe não tem nada de encantado. Vá embora e troque esse sapato de cristal por outro mais confortável e saia pra dançar. Vá embora e me espere ir também, porque eu sei que um dia eu também vou fazer isso. E quando eu for, nada vai me trazer de volta - nem um príncipe."

A princesa chorou e correu, o príncipe gargalhou, ela caiu no palco desmaiada e a plateia assistiu - atônita, calada  e imóvel - àquele desfecho para a peça.

segunda-feira, 18 de janeiro de 2010

[não consigo nomear isso]

18/01 - 22:36
Um amigo me liga.
A ligação durou dois minutos e trinta e cinco segundos.
Quanto teria lhe custado na conta, financeiramente?
Eu sei quanto me custou.
Me custou tirar a alegria genuína de dentro do meu peito e confessá-la por meio do meu sorriso.
Me custou ser iludida novamente, acreditando que o mundo vale a pena só porque ele me ama.
Me custou ser enganada, acreditando que eu seria uma pessoa digna de ser amada.
Me custou amar aquele ser com tanta força, que nem deve fazer bem pra saúde.
Me custou ficar lembrando de coisas tipo "anjo da guarda". Por que eu pensara nele há dois dias inteiros e agora ele me ligava?
Que bom que ele ligou.
Que bom que ele existe.

Morreu e mudou, nem lembrança deixou.

Assisti a um vídeo ontem que me fez rir bastante.
Mas depois fiquei pensando e filosofando sozinha sobre o assunto do vídeo. O cara fez piadas ótimas, mas o que ele diz acaba sendo verdade.
Ele mostra o desespero do ser humano em ser lembrado. Desespero esse que pode levar-nos a fazer coisas ridículas na intenção de...ser lembrado.
E que diferença isso faz? Não sei o que eu vou ganhar quando as pessoas lembrarem de mim depois que eu morrer. Tipo... morri. E aí? Você acha realmente que eu vou morrer, e ficar olhando os pobres mortais aqui embaixo pra ver se eles estão se lembrando de mim?

Não. Eu não vou.

Esse é o vídeo.

Radical Chic


Sai daqui! =]

Não acredito em simpatias, mas juro que a história de botar vassoura atrás da porta dá certo.
Como eu pude viver tanto tempo sem isso?

domingo, 17 de janeiro de 2010

muda, muda... muda.

Quando era criança, me lembro, ficava muito confusa quando diziam que várias pessoas moravam dentro de uma só. Talvez eu imaginasse uma criação de espíritos em humanos, e a gente podia até passar por eles sem desconfiar de nada.
Hoje estava pensando sobre isso. Sobre ser várias em uma só; sobre mudar completamente, continuando a ser eu; sobre ter uma criação de espíritos dentro de mim.
Talvez eu tenha me acostumado tanto a ter um novo personagem a cada dia, se vestindo do meu corpo, que não consigo identificar se isso é bom. Não sei se seria melhor controlar essa coleção de identidades ou deixar que elas me controlem.
Não sei se saberia viver de outra forma, que não mutável.

quarta-feira, 6 de janeiro de 2010

notícia (inter)nacional

Ai, gente... Como senti saudades de brincar de jornalista e dar notícias aqui...

Enquanto estava procurando por notícias interessantes, uma me chamou a atenção. "Barack Obama indica transexual para cargo no Departamento de Comércio"
Cara, só eu fiquei feliz com isso? É só pensar um pouco... Sendo o EUA um dos países mais abertamente preconceituosos atualmente, uma transexual ser indicada a um cargo de importância no país não é uma coisa boa?
Fico pensando como seria se isso acontecesse no Brasil. Porque, vocês sabem, o EUA é preconceituoso e o Brasil não. O Brasil é suuper respeitador com os outros. O Brasil é super.

Tá boa.

Faz uma coisa? Procura no Google "transexual eua" e depois procura "transexual brasil". Na segunda busca você vai encontrar os melhores sites de "acompanhantes" do Brasil.
O que eu quero dizer mudando o rumo dessa notícia é que a gente deveria deixar de ser preconceituoso ao invés de fingir que não é.
Já presenciei cenas nojentas de preconceito contra amigos homossexuais.
Sério... Já é hora de mudar e passar a respeitar as pessoas como elas são. E permitir que transexuais (e etc.) possam ser mais que "acompanhantes".