sexta-feira, 22 de janeiro de 2010

A Caminho do Céu

Ok, hoje eu vou publicar um dos meus textos favoritos de um dos meus escritores favoritos. Ah, veio de um dos meus blogs favoritos. Sempre tenho uma impressão diferente cada vez que leio esse texto, mas em todas elas, eu adoro. Espero que gostem tanto quanto eu. Então, boa leitura! =]

"A Caminho do Céu
Rodolfo Alves

O semblante encontrava-se ausente de sua face. Sua vida procurou outros caminhos e esqueceu de lhe avisar. Seu mundinho pequeno de meios colegas ia-se lentamente. Sua existência não mais encontrava um porquê algum de continuar a sê-la. Não sabia explicar, mas entendia bem, não conseguia assimilar, apenas aceitar.

O seu corpo escarnava delírios e mistérios em meio às suas auto-confissões. O muro de aço que a cercava se tornara tão espesso, duradouro e forte que não havia aquilo que a fizesse desmoronar. A linha da sua vida finalmente atingira um patamar mínimo e retilíneo. A sua poesia não mais brotava. A sua perspicácia não mais se regulava e, por um momento, ela percebeu que sua loucura não passava de um tênue excesso de lucidez.

Depois de tantos esforços em vão, ela finalmente se encontrava acima de todos, acima de qualquer um, desde os que a apoiaram até os que a apedrejaram. Foi chamada prostituta, foi usurpada do seu próprio trono, espancada, chicoteada, enfim, destruída.

Mas naquele instante - e que instante! - ela se viu acima de todos, ali ela era o centro das atenções, era o motivo do embranquecer dos cabelos, a borboleta que criaria asas. O inicio do fim. O seu ser agradecia a existência daquele doce e breve momento: o mundo debaixo dos seus pés.

Então, eis que, na beira da cobertura do edifício, próxima do céu, à luz do dia, à luz de todos, ela se entrega ao sabor do vento. Para muitos ela caia, mas ela flutuava, e no seu breve e infinito flutuar, o calor do sangue aumentava até se esfriar abruptamente: plugt! Ela encontra a sua paz."