quarta-feira, 30 de setembro de 2009

Eles transbordam de satisfação com a beleza de seus sapatos, porém seus pés não têm outra utilidade senão calçá-los. Eu continuo preferindo poder caminhar por qualquer caminho.
Eles mostram uns aos outros a perfeição de seus peitorais. Satisfaço-me com um coração sofrido e surrado que bate dentro do meu velho peito.
Eles são frios, mas inquebráveis. Eu não sei quando uma flecha pode atravessar meu frágil corpo. Mas calorosamente vivo, porque corre sangue quente nas minhas veias.
Eles têm rostos feitos com toda perfeição imaginável, mas não veem o pôr do Sol, não escutam o maravilhoso coral dos pássaros, não sentem o cheiro inebriante de uma flor lilás, não degustam o sabor docemente amargo do mundo, não experimentam a delícia de um arrepio.
Quem são? Belas estátuas estáticas.
Quem sou? Um pombo sujo e livre.




Trecho do conto "Adoráveis sombras de liberdade". E vai ser só trecho mesmo, porque sendo muito grande, ninguém prestaria atenção.

segunda-feira, 28 de setembro de 2009

Paralelamente parados
procuramos parágrafos
nos números, nos nomes,
nos nascidos, nas nações.
E encontramos ecléticos,
eclesiásticos, extremistas,
excomungados e exibicionistas.
Sublimes somos
e sujos são.
Mas, magníficos,
memorizamos meias metades;
ouvimos os óbvios;
observamos ossadas.



Que idiota.

domingo, 27 de setembro de 2009

Que eu sou uma página diferente a cada dia. E é assim, sem nexo, que eu componho o livro da minha vida.

sexta-feira, 18 de setembro de 2009

E eu estou feliz.
Sem precisar explicar.
Me cansei de ter que dizer por tudo e para todos os motivos pelos quais estou de determinado jeito.
Mas quero dizer que estou feliz.
Porque estou feliz. Simples assim.

domingo, 13 de setembro de 2009

perdida num caminho sem destino certo.

Será que se conhecêssemos os mistérios da origem do mundo, entenderíamos os mistérios do destino do mundo? Ambos estão relacionados a um mesmo e único motivo, talvez?

Qual será a única dúvida cuja compreensão é necessária para se entender todo o resto?

Um dia perceberemos que as coisas complicadas, na verdade, são simples?

Quem é o grande responsável pela felicidade e pela realização pessoal da humanidade? Quem pode dar alguma garantia? Pra quem a gente reclama quando tudo dá errado?

Por que ninguém sabe responder ainda milhões de perguntas que já foram feitas milhões de vezes? Estamos sempre (e pra sempre) no caminho errado? E como é que a gente reconhece o caminho certo?

E o que eu realmente preciso perguntar para descobrir o que vai ser de mim?

quinta-feira, 10 de setembro de 2009

Nunca tivera tantas pessoas ao seu redor quanto naquele momento em que tanto desejava a solidão.
Nada tinha contra todos, porém o ar não parecia conseguir te encontrar. Precisava respirar. Precisava ficar só.
Qualquer instante de solidão seria sua salvação. Não importava quanto tempo. Uma necessidade, física até, de estar consigo. Enfim, sós.

03/09/2009

segunda-feira, 7 de setembro de 2009

Doente (?)

Só quero saber que médico eu devo procurar. Não sei se o problema é ocular. Pode ser também alguma coisa no coração. Ou talvez algo no sistema nervoso.
Não sei se é grave ou alguma coisa besta que todo mundo já teve. Nunca ouvi nenhum boato sobre qualquer cura. Não sei como os sobreviventes sobreviveram.
Meu sintoma principal é fácil de descrever: de repente eu acho tudo ridículo. Aliás, isso não sai da minha cabeça. Inspiro e penso: ridículo. Expiro e ouço: ridículo. E está tudo assim... ridículo, ridículo, ridículo.




Ridículos são.
Alguns, ridiculamente sãos.
E somos.
(Des)igualmente ridículos.

domingo, 6 de setembro de 2009

"Aprendi que os poetas, no mínimo, querem ensinar os homens a sonhar, provando inclusive que a palavra é o instrumento maior da alma e que a vida, apesar das picuinhas do cotidiano, é uma benção positiva; mas que coragem é preciso. Sonhar é preciso."

Gabriel Nascente

quarta-feira, 2 de setembro de 2009

um casulo e uma borboleta

É o momento em que o casulo só precisa de uma leve brisa para permitir que a borboleta voe. Não se sabe mais se sua força é suficiente para manter aquele inseto tão guardado. Talvez o casulo não consiga mais mantê-lo e necessite soltá-lo.
O casulo está mais fraco enquanto a borboleta se fortalece.
Talvez a borboleta não consiga mais viver lá dentro e precise atender aos desejos das duas asas. Ela imaginava que sua metamorfose demoraria mais e ela seria lagarta por mais tempo. Mas ela agora tem uma ponta de dúvida em relação à sua permanência lá. Ainda que sinta medo, sabe que é inevitável, e um dia ela vai sair. Mal pode esperar...

terça-feira, 1 de setembro de 2009

Memórias presentes

Futuro do pretérito imperfeito
Mas o que ela não conseguia explicar pra ninguém era que aquela vontade de ser louca não era uma vontade de ser louca, somente. A aparente irresponsabilidade nunca fora tão atraente.
Do meio do nada surgiu um grito que ansiava por liberdade. Ela só queria fugir de tudo aquilo. Em momento algum ela dissera que não gostava da vida que levava. Aquilo não queria dizer que ela não amava as pessoas que estavam à sua volta. Não necessariamente, ela estaria insatisfeita com tudo o que tinha e vivia.
Mas o que sentia era maior que ela. Ela pensava que era só atender à covardia e manter tudo como estava, como sempre. Mas tudo parecia maior dessa vez. O grito era mais alto. O destino desejado era mais bonito. Os meios eram mais fáceis. Tudo era mais tentador.
Nada tinha mudado. Exceto ela... Era ela quem mudara naquele cenário habitual. E depois que a certeza de ficar sumiu, ela ficara totalmente perdida. Não sabia se conseguiria apenas ficar, ou se dessa vez ela iria.
Iria pra onde? Como? Pra sempre ou só por algumas semanas?
E pensar que uma única pessoa a mantia ali pra sempre, mas não sabia se a manteria ali por enquanto.
Se sentia tão confusa e ao mesmo tempo tão certa. Sentia tanto medo e tanta vontade.
Melhor era parar de pensar nisso e voltar ao pensamento mais perto do momento certo. Ela sabia que o desespero poderia lhe ajudar a tomar uma decisão. Sempre fora precipitada, e aprendera a viver com isso. Sim, deixaria de pensar antecipadamente e seria precipitada.
O que vier depois, está bom...

Desejo de poetizar

Eu quero ser uma poesia.
Eu quero ser bela assim.
Eu quero voar pelo mundo.
Eu quero enganar os ignorantes,
e emocionar os sábios.
Quero passar pelas mãos, pelas bocas, pelos corações.
Eu quero ser palavra de um casal apaixonado,
quero ser o grito do ser atormentado,
quero ser a escrita de um papel desesperado.
Quero falar sobre qualquer coisa,
sobre nada, sobre tudo.
Quero mudar meu rosto a cada novo olhar.
Quero me mostrar diferente pra cada canto.
Quero ser lida, quando na verdade sou eu quem leio.
Dar colo, um tapa na cara, um desabafo, eu quero.
Quero salvar o poeta e o leitor,
de uma só vez.
Ou duas, ou três...




27/08/2009