quarta-feira, 30 de junho de 2010

"Quando me dirigia para a praia para chamar a barca, pareceu-me que todo o povo pequeno e escuro estava à minha volta e que eu andava entre eles como a sacerdotisa que fora. Estava sozinha na barca, porém sabia que outras estavam comigo, vestidas e coroadas. Morgana, a Donzela, que levava Artur à caça do veado e ao desafio ao Gamo-Rei; Morgana, a Mãe, que se partira em pedaços quando Gwydion nasceu; e a rainha de Gales do Norte, exortando o eclipse para incitar Acolon enfurecido contra Arthur, a sombria rainha das fadas."



As Brumas de Avalon Livro IV

quinta-feira, 17 de junho de 2010

sexta-feira, 11 de junho de 2010

Cama, mesa e banho

I- Exausta de chorar, deitei-me na cama à procura de um "sono espesso e sem praia", como o de Carlos. Procurava que a noite do meu coração se tornasse literal. Procurava o esquecimento. Mas o que encontrei foi a dor ao sentir o colchão ainda úmido pela toalha que ele deixara de manhã.
A toalha molhada na cama que já trouxe tantas brigas.
A cama que já presenciara tantos momentos de amor. Amor? Ou só paixão?
Como um colchão gelado podia me trazer tanta dor? Como um colchão poderia ser tão gelado? Como o meu corpo não conseguia aquecê-lo? Como o meu corpo sozinho não consegue se aquecer? Desisto. Fraca que sou, melhor dormir no sofá, para não morrer.

II- Prato cheio.
Coração vazio.

III- A dor me anestesiou.
O choro me secou.
O corte me fechou.
A luz voltou.
A fome voltou.
A sede passou.
Ainda assim, meu corpo se derramou
e escorreu pelo ralo do chuveiro.
Só uma pedra, no chão, ficou.
Chamam-na coração.


04/06/2010

terça-feira, 8 de junho de 2010

Estado de defesa

Situação jurídica excepcional e emergencial, decretada quando a ordem pública ou a paz social se encontram ameaçadas por grave e iminente instabilidade institucional, ou atingidas por calamidade natural de grandes proporções.

Trecho de uma carta nunca entregue

Alguém poderia me dar a receita de como se é gente. Não deve ser tão difícil. Tanta gente é gente. tanta gente sabe ser gente. E eu nem sei por onde começar. Me jogaram nesse mundo sem fim, mas não me disseram como fazer isso. Por isso eu fiquei assim - sem explicação, sem rumo, sem saber o que fazer.
Tenho a impressão que as pessoas que não são gente não o são porque não querem ser. Não encontrei ninguém que também não soubesse ser gente.
Não faço questão de ser gente. Mas faço questão de ser. Não sei o que estou, mas sei que não sou. E é tão triste não ser. Talvez essa seja a primeira vez que eu me importo por não ser. Não estive preocupada por não ser durante todo esse tempo, mas agora vejo quão ruim pode ser não ser.
Se não vegeto, se não vivo, o que faço? Se as pessoas não são gente sempre, se não podem ser personagens nunca, saberei a utilidade delas, aqui, no meu mundo?

quarta-feira, 2 de junho de 2010

Sabe o que eu queria? Que um "ano novo" viesse e não fosse nada do que eu quero...

Queria que ele aparecesse e fosse extremamente surpreendente. Um ano como eu nunca pensaria que pudesse ser.
Mas isso não acontece... Todas as coisas surpreendentes já aconteceram em outras histórias e se tornaram banais.
A minha história chegou atrasada pra ser conto de fadas legal.

26/12/2009

Sem conhecer

Eu sei que sua cor preferida é verde, ainda que você me diga que é vermelho.
Eu sei que você adora aprender, mas não gosta muito de estudar.
Eu sei que você gosta de estilos de músicas diferentes, ainda que não seja eclético.
Eu sei que você briga com as pessoas que ama, exatamente por amá-las.
Eu sei que você tem esse ar de que nada está acontecendo, mas que em sua cabeça acontecem mil coisas ao mesmo tempo.
Eu sei que você nunca viria à festa onde eu gastei a minha noite inteira deste sábado.
Eu sei que você poderia beber a mesma quantidade de bebidas que eu sem ficar com metade da minha embriaguez.
Eu sei que você me acharia ridícula se me visse assim- sentada no meio da faculdade, achando todas essas pessoas ridículas, escrevendo para você num pedaço de papel velho.
Eu sei que saber me faz sofrer, porque eu sei quão bom você é pra mim.
Eu sei que você nem sabe que eu existo, enquanto eu já sei tudo sobre você.
Eu sei tudo sobre você, sem saber nada sobre você.
Eu sei que não deveria te escrever sem te saber.
Eu sei que não saberei o que fazer quando souber quem você é, realmente.
Eu nem sei seu nome, nem sei de onde veio, nem sei de nada. Mas eu sei de tudo. De alguma forma, sei.


28,30/05/2010

terça-feira, 1 de junho de 2010

Eu, parede...

Encostei-me na gélida parede. Sua aspereza de repente tornou-se tão agradável que eu queria que fosse parte de mim. Desejos se transformam em realidade? Dessa vez, sim. Aos poucos ela foi se tornando parte de mim e eu, parte dela. Quando percebi, estava assim: parede.
Todos passam por mim e alguns até me olham, mas ninguém me vê. vez em quando, alguém crava em meu peito um prego. Vez em quando, alguém pendura em mim um quadro bonito ou me passam uma mass(car)a, escondendo minhas rachaduras. Dizem que eu fico mais bonita assim. Ouço tudo. Mas nada falo.
Dia desses, tentei falar com uma porta- mas ela não me respondeu. Fica ali, se fechando e se abrindo para qualquer um e ainda leva fama de burra. Não sei se é, realmente. Também tentei conversar com a janela, mas a pobre só fica a suspirar olhando para o mundo lá fora e imaginando todo o resto que não pode ver. Com o chão, não falo mais, não. Ele só reclama de sua condição de ser pisado sem ter atenção devida. Os quadros daqui dizem que não podem se mexer para não estragar a pintura. Não sei se ainda quero ser parede. Um móvel qualquer, talvez fosse melhor.
Shh. Estão dizendo algo.Ouça! Não entende? Querem me derrubar - dizem que eu não combino com o resto.
Vou sair daqui. Não vou ficar parada esperando minha queda.
"Mantenha- se aí. Cada um tem o destino que merece. Você quis ser parede. Seja parede!" diz a porta.
"Não adianta deixar de ser parede. Serás outra coisa pior... E eu preciso que fique, para que eu possa ver tudo lá fora. Mantenha-se parede. Mantenha-me aqui." diz a janela.
"Deixa de ser parede e venha ser chão, para ver o que é ser sofrimento" , diz o chão.
Os quadros nada dizem.
Saio da parede.
Todos me olham, na espera que eu saia e os deixe. E deixe ser a parede ser derrubada.
Saio da sala.
Compro uma briga dura com os donos da casa e consigo manter toda a casa - inclusive a parede - de pé.
Volto à sala.
A porta me diz que seria melhor ter deixado a parede ser derrubada. A janela concorda - sem parede o mundo poderia ser melhor visto. O chão me diz que eu só saí para pisar nele. Os quadros nada dizem.
O que ninguém percebe é que virariam entulho sem a parede para apioá-los. Mas continuam a reclamar.


12/05/2010

De novo.

Foda-se.