sexta-feira, 23 de abril de 2010

tem louco pra tudo...

Comecei a pensar quantos anos aquele senhor teria. Minha mãe me falara o que ouvira de minha avó, que ouvira de sua mãe, que ouvira sabe-se lá de quem. O que acontecia é que todas as outras pessoas também sabiam dele. E sabiam o mesmo: ele era o louco da estação rodoviária. Sempre com suas velhas botas calçadas sobre calças sociais verdes, tendo como complemento um surrado paletó azul. Sua vestimenta era completada por um boné. Sempre o mesmo. Sempre do mesmo jeito. Sempre no mesmo lugar. Sua bengala lhe dava um ar de malvado; talvez por isso as pessoas mantinham distância dele.
Contudo, o que mais chamou minha atenção foi a pasta abarrotada de papéis que ele trazia consigo. Eram papéis não tão velhos mas já usados. Ele se agarrava àquela pasta com tamanho amor que não pude suportar a curiosidade de saber o que havia lá.
Segui-o com  os olhos durante um tempo até que ele se sentou num banco e abriu a pasta para pegar algo. Sentei-me num banco atrás dele para ver sem ser vista. Não dava pra ver muita coisa, além de palavras escritas. Ele abriu novamente a pasta e o tempo parou naquele instante... Eram poemas! E havia tantos lá dentro que meu coração pulsava com puro entusiasmo. Queria tanto lê-los, mas fui inconscientemente impedida pela velha lenda do "maluco agressivo".
Fiquei ali olhando até que uma voz marcante, mas suave, me falou: "Gosta de poesia?" Não tive voz para responder, apenas assenti com a cabeça.
Ele sorriu, fechou a pasta, se levantou e saiu. Só não soube quanta admiração pela sua "loucura" deixou em mim.


01/03/2010

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