sábado, 24 de julho de 2010

sempiterno.

   A proximidade entre os dois aumentava enquanto o espaço entre eles diminuía. Ela já podia sentir a respiração dele e já não sabia quem - ele ou ela - respirava naquele momento. Talvez a respiração dos dois tornara-se uma só. Um inspirava o que o outro expirava, um sentia o ar que entrava no pulmão do outro, inspiravam agora o mesmo oxigênio, expiravam serenidade e ansiedade.
   O primeiro toque não descobrira a boca de imediato. Fora um beijo de almas. Ela sentira o que não poderia ver. Entre eles havia uma vibração que saía daquele pequeno espaço e atingia o mundo todo. Ela sentia a humanidade sendo banhada pela luz que saía do "quase contato físico".
   Finalmente as bocas se encontraram. O beijo. O coração disparado era inevitável. Mas este fora o mais simplório dos sintomas. Era estranho o que sentira. O beijo trouxera para sua boca um gosto de sangue.   
   Poucos segundos, mas que permitiram-lhe uma avalanche de pensamentos. Sangue? Sim, mas não o sangue de morte - gosto de sangue de quem morre ou que mata. É sangue que mostra a vida. Sangue que corre nas veias e bombeia o coração. Isso lá é hora de fazer poesia?
   Seu sangue aquecera todo o seu corpo. Dualidade do que aquece e queima; do que é docemente amargo; do que é lindamente triste; do que é belo sem rosto; do que é uma antiga novidade; do que mata vivendo e vive morrendo; do que traz prazer com seu veneno, veneno que mata com satisfação da vítima e do matador - mais satisfação daquele ou desse? Saudade de sentir o que nunca vivera antes. Sentimentos? 
   Lentamente as bocas se desgrudavam. Os pensamentos ainda dominavam sua cabeça. Nada disse. Nada ouviu. Falou com os olhos. Obteve resposta. Sentiu vontade de chorar. Sorriu, entretanto. Arrepio no braço. Frio? Alguém chamou seu nome. Hora de ir. Despedida sofrida. No fundo, não queriam se separar. No sentido mais amplo da expressão.
   Saiu de lá acompanhada da certeza de que nunca mais se veriam. Como eu sei? Eu só sei.

Um comentário:

♫ Liliane ♥ disse...

Eu super amei o texto! O blog da Alice tb é cultura! Não sabia o q era sempiterno e agora sei! =DDDD