domingo, 5 de junho de 2011

Carta para ti

A casa foi tomada por um silêncio quase visível, quase tocável, quase vivo. Queria te entregar as palavras que eram feitas para ti, mas que tomaram minha garganta como morada; sem nunca sair de lá.
Eu soube que era o momento certo para que elas fossm entregues. Meu gato também sabia - me olhava com um ponto de interrogação na testa, sem saber como eu faria para falar com alguém que não vive mais.
Abri a gaveta. Peguei um papel. Peguei sua caneta. Sentei na cadeira. Escrevi suas palavras. Respirei o ar. Senti o mundo. Levantei meu corpo. Levantei minha alma. Andei até lá. Abri a caixa. Peguei o palito. Acendi o fogo. Queimei o papel.
E esperei as palavras te encontrarem.


25/04/2011

quarta-feira, 20 de abril de 2011

urgência

Hoje eu vou sair sem ter esperado por você.
Espero por um táxi, mas não espero uma migalha de atenção sua.
Espero por minhas amigas, mas não espero teu falso amor.
Espero que a noite não seja chuvosa, mas não espero que a noite me traga você.
Enquanto espero a hora de sair, lembro-me do quanto te esperei. E percebo o quanto me enganei. Achei que te amasse. Mas quem ama não espera. Quem ama tem urgência. E minha urgência hoje é pra me fazer bem. Porque eu não posso esperar por mim. Enquanto eu te esperava, esperei inconscientemente por mim. Não amei bastante a nenhum de nós.
Mas hoje não espero. Não preciso esperar nada de você, e não posso esperar por mim. Sabe como é...
amor demais tem urgência demais.

segunda-feira, 18 de abril de 2011

quinta-feira, 14 de abril de 2011

"King of pain"

Comecei a sentir muita dor. Daquelas dores que vão começando meio tímidas, entrando na sua vida aos pouquinhos enquanto o segurança está olhando pro outro lado. Daquelas que você sente o incômodo, mas só percebe que está sentindo dor quando ela é demasiadamente forte.
Achei que era na cabeça. Achei que era nas costas. Achei que era no peito. Só depois fui saber que era na alma. Mas isso é pra conclusão. Ainda estamos na parte da história em que eu achava que só sentia dor física.
Tomei alguns analgésicos que me indicaram. Um amigo disse que tal comprimido era ótimo pra dor de cabeça. Engoli logo um monte deles. Depois lembrei-me de um que minha mãe me colocava garganta adentro nas minhas crises de dor nas costas. Resolvi tentar também. Procurei na bolsa alguma coisa e achei uma cartela de "comprimidos milagrosos", como dissera minha chefe, para cólicas menstruais. Se for tpm fora de época, já estaria tratada. Mas não era. Agora eu sei, e você sabe também que não era, mas por enquanto eu não sabia. E a dor continuava forte e incômoda. Não prestava atenção nas músicas que tocavam, mas um refrão me gritou e me chamou e me disse o que era óbvio mas eu não sabia, 
eu não escutava, 
eu não sabia!
"Mas não tente se matar, pelo menos essa noite não!"
Eu não vou tentar me matar, Lobão. Fica calmo.
"Tá sozinha, tá sem onda, tá com medo  Seus fantasmas, seu enredo, seu destino"
Frase estranha. Me fez ficar pensando... Estava sozinha. Estava sem onda. Estava com medo. Mas só passei a ver isso quando alguém me disse. Pensei em ligar pra alguém. Pra quem? Pensei em cada amigo meu. Cada um passando por uma fase diferente. Nenhuma que acompanhasse a minha fase. Mas eu queria falar com alguém. Mas também, dizer o quê? Se nem ao menos eu sabia o que precisava ser dito.
Cliquei a tecla repeat pra aquela música.
"As pessoas enlouquecem calmamente Viciosamente, sem prazer"
A dor continuava. A coisa indefinível da música também. A vontade de ligar pra alguém também. Mas dizer o quê?
"Mas não tente se matar Pelo menos essa noite não" 
Eu não vou tentar me matar, sr. João Luiz!
Vi a quantidade de cartelas jogadas ao lado do meu computador. Seria aquela quantidade capaz de matar?
E a dor continuava. 
Resolvi ligar, ainda que não soubesse o que dizer.
Liguei para a última pessoa que eu deveria ligar. Me dei conta disso quando escutei a bela voz dizendo alô. Só ouvi. Mas se eu poderia morrer com uma overdose acidental depois de alguns segundos, eu poderia fazer isso. Só ouvir...Com a alma ainda dolorida, só ouvi. Até porque, dizer o quê?

terça-feira, 5 de abril de 2011

brevidade do amor

Só precisei olhar para trás para vê-lo no computador da fileira de trás.
Expressão de quem veio estudar, mas acha qualquer coisa mais interessante na internet.
Clica em diferentes janelas. Seus olhos e seus pensamentos são tão rápidos que eu mal posso acompanhar.
Ele achou alguma coisa engraçada e deu um risinho tímido. Sorri sem nem saber do que se tratava.
Olhei pra ele por tanto tempo, que era como se o conhecesse há tempos, como se já tivesse decorado cada detalhe do seu ser.
Oh, céus! Eu tive certeza: aquele era o amor da minha vida!
Sorri novamente, com um ar bobo-apaixonado.
Até que ele levantou o olhar da tela do computador e encontrou o meu olhar.
Aí, eu percebi que não, ele não era o amor da minha vida.
Ele voltou para a tela do seu computador, e eu voltei para a tela do meu.
E o nosso amor chegou ao fim.

segunda-feira, 4 de abril de 2011

"Quantos anos você tem?"

Todos.
Nenhum.
Não há como se ter anos.
Perderam-se. Ou ganharam-se.
Mas não pertecem a mim.
Ainda assim, foram todos meus.
Foram, enquanto existiram.
Acabou-se.
Não são mais meus.

16/08/2010

volta

" - Volto hoje.
- O quê?
- Volto hoje.
- Sério?
- Sério.
- Que bom!
- Quero ver você...
- Sério?
- Claro que é sério.
- Por quê?
- Por que eu sinto tua falta, ué... Você não está com saudades?
- Tô... Claro... Mas é que...
- ...
- ...
- Mas é que... o quê?
- Não sei... Eu não esperava... Só isso.
- Não é só isso. Eu sei que não é. O que está acontecendo?
- Juro que é só isso...
- ...
- Não fica bravo...
- Não tô...
- Tá sim.
- Não.
- Eu pensei que você não voltasse mais... Você disse que não voltava!
- Disse, mas agora eu vou voltar. Então, quero te ver logo.
- Err... Preciso desligar.
-Espera! Eu...tu tu tu tu tu tu tu

01/06/2010

domingo, 27 de fevereiro de 2011

Em meio a tantas pessoas que passavam

Saí pelo mundo pedindo a ele que me contasse histórias. Não procurei muito, nem fui muito longe para encontrar uma personagem perfeita. Ou melhor, para ela me encontrar.
Virei-me em sua direção porque senti que alguém me observava. Era aquela menina - minha personagem. Em meio a tantas pessoas que passavam olhava-me com tanto interesse que senti-me sem roupas. Sem roupas de corpo, sem roupas de espírito. Despida ali, enquanto somente ela me assistia.
Depois que nossos olhares se encontraram, resolvi assisti-la também. Uma menina diferente para seus prováveis 7 anos. Cabelos curtos, mas femininos. Vestido cor-de-rosa com estampa infantil demasiado curto para seu tamanho. Pernas finas e compridas tão inquietas quanto as minhas. Olhos grandes e castanhos tão curiosos quanto os meus. Boca pequena e decidida, que guardava na ponta da língua respostas para tudo.
Nos olhamos por alguns instantes. Eu procurava uma história. Ela insistentemente procurava. Não sei pelo o quê. Não via mais as tantas pessoas que passavam. Ficamos ali, sentadas - frente a frente. Olhos que diziam, mas não sabiam. Bocas que sabiam, mas não diziam. Pernas que se mexiam por vontade própria.
Então, ela se levantou e saiu.
E eu não pude identificar sua história a tempo.

domingo, 13 de fevereiro de 2011

Todos iguais

Estava concentrado no meu livro, até que vi Mariana correndo com um plástico na frente do rosto. Depois que eu perguntei o motivo daquilo, ela parou e me respondeu calmamente:
A professora disse que precisamos ver todas as pessoas como iguais, mas eu vejo todo mundo diferente. Aí eu peguei isso, porque aí todo mundo vira um borrão e fica todo mundo igual.
E continuou sua corrida olhando para tudo através daquele igualador de pessoas.

sábado, 12 de fevereiro de 2011

Mas aí quando você terminou de falar, o sangue escorreu. Diria mais, não esperou você terminar de falar - começou na metade do seu discruso, quando eu percebi o que você realmente queria me dizer. O sangue escorreu bem do meio do meu peito com uma dor tão forte que eu não sentia mais nada, além daquela sangria.

Você estava me deixando, e o seu amor também me deixava. Meu corpo trabalhava na compensação dessa perda. Enquanto seu amor ia embora com meu sangue, meu amor aumentava para que o fluxo sanguíneo fosse normalizado.

Você estava me deixando, e você arrebentava minha pele da forma mais brutal para conseguir sair. Mas é que você estava tão fundo, que o caminho de volta mais difícil que a entrada. Enquanto você entrou aos pouquinhos, tentou sair de uma vez só.

Agora, estão tentando conter minha hemorragia. Mas não dão falsas esperanças, já que o estado é grave e instável.













29/12/2010