sexta-feira, 19 de novembro de 2010

Feita d'água

    Um dia, enquanto conversávamos assuntos banais, seus olhos encheram-se de lágrimas, sem transformarem-se em choro, contudo. Parei de ouvir o que ela dizia porque fiquei prestando atenção nos seus molhados olhos (e a atenção masculina é limitada demais para ouvir outro assunto enquanto outra coisa é mais interessante). Cortei sua fala e perguntei se ela estava chorando. Ela disse que não, "sempre tenho lágrimas nos olhos". "Mas por que isso?" "Não sei".
    Fiquei olhando seus olhos e vi que as lágrimas os tomavam a ponto de quase transbordarem e depois simplesmente desapareciam. Fiquei mais intrigado ainda porque percebi que as lágrimas chegavam sem que ela estivesse num momento que trouxesse emoção, aparentemente.
    Num outro momento, mandei a ela um bilhete que parafraseava uma canção: "Há uma nuvem de lágrimas sobre os seus olhos..." Surpreendentemente, ela me respondeu num segundo bilhete: "Não. Há uma nuvem de lágrimas dentro dos meus olhos. O que me assusta é que não sei porque ela está aqui e não sei se um dia ela vai chover..."
    Me pareceu um bilhete triste, mas quando olhei-a, ela trazia um sorriso no rosto e duas lagoas nos olhos que sumiram tão rapidamente como se nunca tivessem estado ali.

3 comentários:

Rômulo Alexander disse...

Hm... Adoro suas palavras super bem feitas!

Também adorei o negócio da atenção masculina, hehe!

Rodolfo Alves Pena disse...

não há como falar se essas lágrimas eram tristeza ou não, ou há?

Alice Mattos disse...

talvez nem ela saiba...