terça-feira, 5 de abril de 2011

brevidade do amor

Só precisei olhar para trás para vê-lo no computador da fileira de trás.
Expressão de quem veio estudar, mas acha qualquer coisa mais interessante na internet.
Clica em diferentes janelas. Seus olhos e seus pensamentos são tão rápidos que eu mal posso acompanhar.
Ele achou alguma coisa engraçada e deu um risinho tímido. Sorri sem nem saber do que se tratava.
Olhei pra ele por tanto tempo, que era como se o conhecesse há tempos, como se já tivesse decorado cada detalhe do seu ser.
Oh, céus! Eu tive certeza: aquele era o amor da minha vida!
Sorri novamente, com um ar bobo-apaixonado.
Até que ele levantou o olhar da tela do computador e encontrou o meu olhar.
Aí, eu percebi que não, ele não era o amor da minha vida.
Ele voltou para a tela do seu computador, e eu voltei para a tela do meu.
E o nosso amor chegou ao fim.

segunda-feira, 4 de abril de 2011

"Quantos anos você tem?"

Todos.
Nenhum.
Não há como se ter anos.
Perderam-se. Ou ganharam-se.
Mas não pertecem a mim.
Ainda assim, foram todos meus.
Foram, enquanto existiram.
Acabou-se.
Não são mais meus.

16/08/2010

volta

" - Volto hoje.
- O quê?
- Volto hoje.
- Sério?
- Sério.
- Que bom!
- Quero ver você...
- Sério?
- Claro que é sério.
- Por quê?
- Por que eu sinto tua falta, ué... Você não está com saudades?
- Tô... Claro... Mas é que...
- ...
- ...
- Mas é que... o quê?
- Não sei... Eu não esperava... Só isso.
- Não é só isso. Eu sei que não é. O que está acontecendo?
- Juro que é só isso...
- ...
- Não fica bravo...
- Não tô...
- Tá sim.
- Não.
- Eu pensei que você não voltasse mais... Você disse que não voltava!
- Disse, mas agora eu vou voltar. Então, quero te ver logo.
- Err... Preciso desligar.
-Espera! Eu...tu tu tu tu tu tu tu

01/06/2010

domingo, 27 de fevereiro de 2011

Em meio a tantas pessoas que passavam

Saí pelo mundo pedindo a ele que me contasse histórias. Não procurei muito, nem fui muito longe para encontrar uma personagem perfeita. Ou melhor, para ela me encontrar.
Virei-me em sua direção porque senti que alguém me observava. Era aquela menina - minha personagem. Em meio a tantas pessoas que passavam olhava-me com tanto interesse que senti-me sem roupas. Sem roupas de corpo, sem roupas de espírito. Despida ali, enquanto somente ela me assistia.
Depois que nossos olhares se encontraram, resolvi assisti-la também. Uma menina diferente para seus prováveis 7 anos. Cabelos curtos, mas femininos. Vestido cor-de-rosa com estampa infantil demasiado curto para seu tamanho. Pernas finas e compridas tão inquietas quanto as minhas. Olhos grandes e castanhos tão curiosos quanto os meus. Boca pequena e decidida, que guardava na ponta da língua respostas para tudo.
Nos olhamos por alguns instantes. Eu procurava uma história. Ela insistentemente procurava. Não sei pelo o quê. Não via mais as tantas pessoas que passavam. Ficamos ali, sentadas - frente a frente. Olhos que diziam, mas não sabiam. Bocas que sabiam, mas não diziam. Pernas que se mexiam por vontade própria.
Então, ela se levantou e saiu.
E eu não pude identificar sua história a tempo.

domingo, 13 de fevereiro de 2011

Todos iguais

Estava concentrado no meu livro, até que vi Mariana correndo com um plástico na frente do rosto. Depois que eu perguntei o motivo daquilo, ela parou e me respondeu calmamente:
A professora disse que precisamos ver todas as pessoas como iguais, mas eu vejo todo mundo diferente. Aí eu peguei isso, porque aí todo mundo vira um borrão e fica todo mundo igual.
E continuou sua corrida olhando para tudo através daquele igualador de pessoas.

sábado, 12 de fevereiro de 2011

Mas aí quando você terminou de falar, o sangue escorreu. Diria mais, não esperou você terminar de falar - começou na metade do seu discruso, quando eu percebi o que você realmente queria me dizer. O sangue escorreu bem do meio do meu peito com uma dor tão forte que eu não sentia mais nada, além daquela sangria.

Você estava me deixando, e o seu amor também me deixava. Meu corpo trabalhava na compensação dessa perda. Enquanto seu amor ia embora com meu sangue, meu amor aumentava para que o fluxo sanguíneo fosse normalizado.

Você estava me deixando, e você arrebentava minha pele da forma mais brutal para conseguir sair. Mas é que você estava tão fundo, que o caminho de volta mais difícil que a entrada. Enquanto você entrou aos pouquinhos, tentou sair de uma vez só.

Agora, estão tentando conter minha hemorragia. Mas não dão falsas esperanças, já que o estado é grave e instável.













29/12/2010

terça-feira, 25 de janeiro de 2011

Coração órfão

Aprendi nas aulas de anatomia
que ele se chama coração,
e que ele pertence a mim,
ao meu corpo; é meu elemento vital.
Mas percebi com a experiência
que ele não é meu, é seu.
Aprendi que ele é um bichinho indomável
que só quer saber do seu verdadeiro dono.

Por isso, cada vez que ele te vê,
bate violentamente nas grades do meu peito
por querer voltar para você.

quinta-feira, 13 de janeiro de 2011

Meu querido Silfo

É que meu corpo ficou aqui sentado, enquanto meu espírito saiu para procurar o Silfo que vive comigo, e que sumiu.
Como não sabia o caminho que ele poderia ter traçado, meu espírito saiu sem destino sem nem saber como ou onde procurar. Na verdade, acho que ele nem sabia o que procurar, já que só hoje soubemos, com certeza, o que nos faltou.
Procurou todo o dia por todo canto, e o meu corpo, pobrezinho, ficou aqui, abandonado. Ao fim do dia, precisava voltar para manter meu corpo aquecido. Mas precisava procurar, para manter minha alma.
Chegou no meio da madrugada. Sem o Silfo. Cansado de procurar. Sem achar. Mas voltou.
Fui dormir.
Acordei.
Com o corpo, com a alma...
Bom dia, Silfo.

sexta-feira, 7 de janeiro de 2011

quinta-feira, 6 de janeiro de 2011

Notícias de um velho amigo

     Aproveitei o jornal que me servia de cama, para me servir de sonífero também. Gosto de ler antes de dormir. Na lista de falecidos, vi um nome familiar. Não sabia de quem era, mas sabia que já o tinha ouvido.
     Aquele nome distante me fez viajar até o passado e lembrar do dia em que saí de casa, cheio de coragem e de sonhos. Era tão jovem! E isso me fazia ter o mundo em minhas mãos... E, agora, não tenho nem onde dormir e hoje precisei juntar-me aos mendigos para proteger-me do vento gelado da noite. Quis chorar ao pensar em meu triste fim.
Segurei o choro para que os outros não vissem.
Segurei o choro para não ser perdedor.
Segurei o choro.
     Depois não precisei mais segurá-lo, já que um pensamento me veio à cabeça e iluminou minha sarjeta.
     Até o mais triste dos fins tem um enredo que pode virar uma bela novela.
    

     Aguarde notícias minhas,
J.P.