domingo, 11 de outubro de 2009

uma história

Era evidente que ele mancava. Ele precisava da ajuda de muletas. Todos notavam sua tristeza e acreditavam que ela existisse devido ao seu problema físico. Contudo, ele se entristecia pelo fato de ninguém se preocupar realmente com o que acontecia dentro dele.
Naquela noite de segunda-feira, de alguma forma, ele permitiu que eu soubesse o seu segredo. Foi ali, então, que eu pude entender tudo...

Garoava naquela tarde. Ele esperava sua amada naquele local, como havia prometido. As fracas gotas de chuva não o incomodavam.
De repente, uma bela moça apareceu. Há tempos ele não via uma garota tão linda. Seu jeito de flutuar no chão, enquanto todos os outros caminhavam, provava que ela era um anjo caído. Ele não sentia culpa por estar enfeitiçado por ela, ainda que fosse comprometido. Ele não tinha interesse nenhum nela, além de ver seu encanto no ar. Impossível dizer quanto tempo ele ficou ali admirando aquele ser. Até que tudo aconteceu.
Um rapaz se aproximou da bela moça com terrível agressividade. Aquele ato fez com que sua visão maravilhosa se transformasse em um terrível pesadelo de repente. Ele continuou a observar o que aconteceria então...
Ele não tem certeza, mas acredita que aquele rapaz era um ex-namorado da garota. Aquele rapaz olhava para aquela garota com uma fúria terrível no olhar. Eles tiveram uma discussão séria, até que ela resolveu ir embora e deixar o rapaz falando sozinho. Foi então que ele percebeu que o rapaz tirara algo de dentro do casaco. E aquilo brilhava mortalmente. Nem pensou antes de se jogar na direção do rapaz, na esperança de salvar a bela jovem.

Depois disso, ele não se lembra mais dos fatos com clareza. Ele sabe que os dois lutaram. Sabe que a garoa se transformou em chuva. Se lembra da sensação de chuva nele. Se lembra da sensação terrível que sentiu depois do som do tiro. Se lembra dos gritos e de que algumas pessoas vieram ajudar antes que uma tragédia realmente acontecesse. Um branco na memória. Sirenes. Outro branco. Pensou em Clara. Ele estava ali para encontrá-la. Onde estaria? Como estaria? Como saberia o que estava acontecendo?
Seus pensamentos foram interrompidos pelos pedidos desesperados de desculpas da moça em meio a agradecimentos e muito choro. Ele não conseguia raciocinar direito. Seus pensamentos estavam confusos. E sua perna estava estranha. Ele tentava tocá-la, mas ela tinha sumido. Então ele dormiu.
Quase acordou. Olhou em volta. Clara não estava, só aquela bela moça cochilando num canto. Olhou subitamente para sua perna e, com grande alívio, percebeu que ela estava ali. Mas Clara não estava.
Ele queria ligar pra ela, mas não conseguia porque seu corpo queria dormir. Dormiu.

Os médicos fizeram todo o possível, mas o incidente deixara sequelas nele.

Ele não pôde andar sem auxílio novamente.

Teve até um início de amizade com a moça, mas acabaram se distanciando.

O pior de tudo fora a conversa com Clara. Ela lhe contou que marcara o encontro para terminar o relacionamento, mas mudara de ideia depois que tudo aconteceu por perceber quão horrível seria perdê-lo pra sempre.
Contudo, ele não acreditou. Pensava que ela estava com ele por pena de sua nova deficiência, já que tinha pensado em deixá-lo.
E terminou com ela.
E sentiu que morreu, então. E vive morto todos os dias...

Um comentário:

Wanessa Soares Trindade disse...

jimigah não me leve a mal,mas ficou maravilhosoooo msm...o melhor